O livro do amor é longo e chato. Poucos são corajosos o suficiente para lê-lo. As linhas não são retas nem paralelas, a letra precisa de aprimoramento caligráfico, as palavras nem sempre significam o que o escritor queria dizer; o narrador diverge entre primeira-terceira pessoa e onisciente. Mas mesmo assim eu adoro quando você o lê para mim. E você pode ler qualquer coisa dentro dele pra mim.
O livro do amor tem música dentro, podemos ouvi-la quando abrimos a primeira página. A cada história ela vai trocando de faixa automaticamente, sem nunca parar. Músicas alegres, tristes, aquelas que te fazem chorar, tocam em volume ambiente e todas tem o poder de te agradar. Inúmeras são as vezes que deixamos ele aberto só para poder dançar. Até o dia que o livro se fecha, a música para, e ninguém mais o lê. Você se esqueceu que ele foi escrito há muito tempo, e foi publicado especialmente para você, sem nunca ter sido finalizado. Ele já está até amarelando pois você cansou de lê-lo.
Então o livro é novamente retirado da estante. A poeira voa pelo ar, e você abre exatamente na página que deixou para trás, sem precisar de marcador. Relê algumas passagens, sorri discretamente, ouve uma das músicas de sua preferência, até que encontra a sua história favorita. Depois de uma olhada por cima pensa "como eu pude gostar disso?". Pega uma caneta e começa a escrever com o pensamento focado em dar outro final, mas é incapaz de fazê-lo. Ela o cativa novamente. E assim, resolve escrever um novo conto. Olha algumas páginas em branco e torce para que esta seja a história final do único livro que você muda conforme quer, e que pode esperar até a eternidade para ser lido.
(The book of love, do Peter Gabriel, me inspirou)
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