26 de novembro de 2011

#adiante


te encontrei inevitavelmente ontem na calçada, infeliz coincidência estarmos no mesmo lado da rua, no bairro em que eu moro. tentei passar reto, direto, não te dar oi, ainda ressentida pelo nosso fim sem desfecho, mas você, como sempre, sorridente, prepotente, conquistador, não deixou com que eu me desviasse.

– oi? como estás? faz tempo que não nos falamos.
- é, eu tô bem. vivendo, sabe?

mas faíscas reluziam de meus olhos. que momento mais embaraçoso pode ser este de conversar com alguém que não te liga mais, já tem outra namorada e mesmo assim, parece fingir, ou realmente acreditar, que nada entre vocês mudou. meu querido, acontece que mudou. no começo mudou pra pior. chorei ao ver seu novo relacionamento crescendo e tomando forma. invejei não ser aquela que com você agora dividia as tolices do convívio diário. solucei ao perceber o quão sério o sentimento de vocês se tornou. amaldiçoei o dia em que você entrou na minha vida e me fez feliz, tola e apaixonada. praguejei ainda mais sua existência, por ter saído sem dar explicações da minha história. coloquei na balança se estava realmente mal sem sua presença. até que finalmente te esqueci. te esqueci e te esqueci. então te reencontro agora e me sinto congelada. jurei por alguns segundos que não conseguiria passar por você sem me controlar, te agarrar ou berrar “por quê?”. mas, amigo, sabe qual foi, para a minha surpresa e talvez sua também, a minha reação? um combo entre  indiferença, serenidade e alívio.

- você tá mais bonita, posso te ligar pra gente marcar alguma coisa?
- claro, tens meu número ainda?

aí eu caio na cilada de achar que você vai realmente me ligar. dar importância para mim novamente, mas logo passa. depois de tantas voltas que você me deu, fui vacinada forçosamente contra suas picadas de charme que só servem para ludibriar as moças despreparadas. que orgulho senti, ao chegar em casa e pensar que você já não me afeta mais. nem por raiva, nem por tesão. simplesmente acabou. nem mágoa, nem vontade. o coração aprendeu com o erro, ou o tempo, ou ambos, ou porque quebrou-se em mil e custou muito para se consertar e ficar inteiro, pronto para novas emoções.

- foi bom te ver, tá? tô com pressa, sabe?
- eu te ligo dessa vez, viu menina? se cuida.

claro, sei, você vai me ligar. me liga em seu desejo inconsciente de bancar o Don Juan, me prendendo novamente em suas redes ardilosas e galanteando-me como se eu não soubesse de seus truques picareticos de sedutor alfa que não pode, jamais-nunca-impossível-de-acontecer, sair sem deixar sua marca borrifada no ar do ser oposto que encontra. mas eis que as pessoas mudam, e apesar de você não acreditar que perdeu efeitos criptoníticos sobre mim ou qualquer outra, seus truques de mágicas não surpreendem mais, eu juro. e o que antes parecia ser uma piada de mal gosto do destino, colocando-nos um de encontro ao caminho do outro, agora reconheço como um teste probatório, para deixá-lo ir seguir o seu rumo, que eu sigo, eu sigo adiante, simplesmente, como tem que ser.

16 de novembro de 2011

#confesso

"Peso" não define beleza


Sou gorda. É, eu sou gorda, confesso, e agora? você gosta menos de mim porque soube disso? Bem amiga, tem gente que ainda age assim, acredita? Às vezes minha vontade é dizer:  e que te importa o tamanho do meu corpo? É você que paga pelas roupas que eu compro? Daí eles dizem que é preocupação com a minha saúde. Será? será mesmo só cuidado com a minha saúde? Que mania de achar que todo gordo/a é doente. Doente é quem não se importa com a própria vida e inferniza aqueles que são felizes da maneira como são. Seja por acreditar que foi Deus que fez assim, ou culpa do acaso, destino, universo, por serem especilmente do jeito que vieram ao mundo, de um modo ou de outro, sinto que a ciclicidade da história está mais uma vez trazendo à tona que o jeito “normal” de ser não é o padrão no qual você está tão habituada e crê que seja.

Domingo no programa Estúdio Santa Catarina da RBS (filiada da rede globo em SC) que passa após o Fantástico, a reportagem principal era sobre uma  menina exemplo de superação pois ela emagrecera 31 quilos sem cirurgia nem remédios. Nossa, que exemplo! Ok, não é fácil emagrecer, não desmereço o esforço da colega, mas por isso ela virou modelo de alguma coisa? Superação na vida tem a mãe solteira que cria dois filhos sem pensão; o pai desempregado que se sujeita à qualquer sub-emprego para conseguir trazer comida pra casa, ou os avós que com o pouco de aposentadoria que ganham sustetam famílias. Isso sim é superação-modelo-exemplo de alguma coisa valiosa.

Se amar e aceitar-se é a tarefa menos difícil de realizar nessa cruzada moderna que travamos nós - do tamanho fora do “padrão” - diária e constantemente contra os estereótipos. Ao diabo revistas de dieta! Ao inferno ditadura da beleza! A moda não usa tamanho único, por que raios deveria eu usar? Não sou contra, nem faço camapanha para que você seja também, quem queira se arrumar bem, se produzir, vestir-se com estilo. Minha questão não é esta. Sentir-se bem com o corpo que se habita, seja adequado ao “padrão” ou não, é o que eu me refiro. Eu não deio gente magra, muito pelo contrário, mas conheço algumas que deixam transparecer muitas vezes o ódio que sentem de gordos que se orgulham, ou pelo menos não reclamam, de serem assim.

- cada um se respeitando por ser o que é, será que é pedir muito?

13 de novembro de 2011

#stalker



vou de rede social em rede social, clicando no F5 esperando te encontrar online. um mízero olá, bom dia, como vai? já alegra meu tolo coração. eu espero notícias tuas o dia todo. quando você atualiza seu status eu espero que tenha alguma relação comigo. mas não tem. você não se importa. você não me nota. não sou nada mais. você começou uma nova amizade e com apenas um clique fui substituído.

o abismo que as relações virtuais construíu me isola do seu mundo e assola o meu. grito, esperneio, mas não sou ouvido. eu te chamo. eu dou dicas. eu deixo migalhas pelos caminhos, mas você já não me segue mais. é triste ver como não tenho o mesmo espaço no seu dia como nos dias gloriosos de nosso relacionamento, apesar deste ter sido desde o princípio completamente enrolado. eu não deveria te venerar da maneira como faço, mas é inevitável. talvez seja a falta de um deus, da igreja, de ídolos, ou mesmo de livros interessantes para ler. acontece que em minha vida, você foi pior que qualquer vírus que tenha um dia estragado meu computador ou uma formatação sem nada salvo! em frente à tela pareço um adolescente platonicamente apaixonado, babando pela afrodite intocável. adoro a imagem de outrém que não me vê. se eu fosse narcíso, o feitiço lançado sobre mim não teria efeito e o mito nunca teria sido criado. é o outro e sua imagem hipnotizadora que me importa, o eu não existe mais.

infeliz, desolado, me resta te seguir, te observar, ler e reler o que você escreve, ver e ouvir, o que você ouve. louco, doidivano, maníaco e obsessivo. meu vício é o pouco de ti que tenho acesso. aquela foto, aquele escrito. algo que me remeta aos momentos juntos. ao seu olhar, risada, jeito de falar. tento levar meus dias sem esse vício, mas é mais forte do que nicotina. é claro que quero te equecer, mas não agora. por esse momento, me contento com a presença virtual da sua ausência física.

- um link vazio. uma página existente que teima em não abrir.

Meiri.

10 de novembro de 2011

#jessé

Se tem um cantor que muitos de nós, de vinte e poucos anos, renegam o prestígio ou nem mesmo conhecem, é o Jessé. Morto em 1993, quando éramos ainda crianças, ele possui as mais belas poesias musicadas que um cantor brasileiro um dia compôs. Não entendo porquê do esquecimento. Não faz sentido! Faça um favor ao seu conhecimento de mundo/brasileiridades/musical e coloque esse nome agora mesmo no youtube e deleite-se como eu estou fazendo agora mesmo.






"Rimas, de ventos e velas
Vida que vem e que vai
A solidão que fica e entra
Me arremessando
Contra o cais.."
Porto Solidão 
"Voa, nas manhãs ensolaradas
Entra, faz verdade essa ilusão
Voa, no estalo do meu grito
Quero ver teu infinito
Nesse azul sem dimensão"
Voa Liberdade


"A saudade lembra de lembranças tantas
Que por si navegam nessas águas mansas
A saudade lembra de lembranças tantas 
Que por si navegam nessas águas mansas"
Solidão de Amigos

6 de novembro de 2011

#procuro



onde será que enterraram os restos mortais do romantismo? ando tão cansada de bancar a mulherzinha moderna, super-heroína, aquela sem interesse em compromissos, em relacionamentos sérios,  que estou pronta pra incorporar a paleontóloga e escavar onde for para resgatá-lo. é de admirar-se a falta de sensibilidade que acomete algumas pessoas da “nossa” geração. (re)inventamos o verbo "ficar" e somos nós que ficamos na mão quando o desejo de oficializar quaisquer namorico aparece. quero de volta notar o rubor nas bochechas da pessoa que me encontra; reconhecer um brilho diferente no olhar do outro quando estes com os meus se cruzam. sem pieguices, que também não sou dessas, mas meu eu-afetuoso está cansado de ser massacrado pela secura das relações que me cercam. quero andar de mãos dadas em algum parque nas tardes de domingo. sentir novamente um nervoso antes de ter meus lábios tocados por alguém especial pela primeira vez. a folia da micareta não faz sentido no mundo. eu quero alguém que me dê flores, mesmo sendo amigo. alguém que me escute, e não queira apenas fazer sexo. poder recitar poesias de amor sem parecer clichê. nada de clarice, nem caio, nada profundo, conturbado, nem moderno e contemporâneo. eu quero  o sofrimento do werther, de goethe, que se mata em nome de uma paixão inconcebível. ou da isolda, de wagner, que ao encontrar seu tristão morto, sucumbe à morte de tristeza pois não suportaria a vida sem o seu verdadeiro amor. há dias que simplesmente acordamos assim, querendo amar, querendo morrer. ter o que sentir na carne, na alma, na vida offline. eu hoje quero um amor a moda antiga e não apenas alterar meu “status” de relacionamento das redes sociais das quais participo. se amanhã ainda estarei assim, não sei. sei que neste momento quero o mesmo amor de camões: aquele que ardia sem se ver, doía sem doer, nunca contentava-se de contente, ganhava ao se perder.

meiri.

3 de novembro de 2011

#ir]rir


"No fundo o horizonte
sopra o murmúrio para onde vai.
No fundo do tempo
foge o futuro, é tarde demais...

                                            E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir, 
a vida é sempre a perder..."


Xutos e Pontaapés