15 de outubro de 2013

#dia15




Como nasce um professor?

É com ternura e abdicação,
Afeto, afago e inspiração,
Da coragem de quem se arrisca para levar a instrução,
Que surge essa profissão.

Dotada de um giz na mão,
Ela caminha horas com os pés no chão,
Para quê, minha filha? Pergunta a mãe, com o coração na mão.
E com brilho no olhar responde: para mudar minha nação!

Acorda às cinco e às seis bate o portão,
Ainda é escuro, mas nada de contrição,
“Essa escolha fiz certa de que bons frutos virão,
Por eles movo céu, terra e enfrento furacão!”

Quando os primeiros pés descem do caminhão,
Entram descalços na sala de aluvião,
Sem portas, janelas, teto ou corrimão,
Rostinhos se amontoam para mais uma lição.

Hoje não tem merenda, não.
A  verba foi desviada por causa do cifrão.
No papel oficial tudo está certo naquela região.
Porém como de costume, nada de fiscalização.

E assim os dias vão passando, como uma ilusão.
Mas a fé e a esperança não a deixam na mão.
“Amanhã será mais um dia de provação,
Mais um dia seguindo meu coração.”

É do questionamento e da indignação
Dos precursores da transformação,
Que nasce essa profissão.

O descontentamento e a indagação
Sempre fizeram parte da discussão.
Quando jovem sonhava com a revolução,
Por isso a escolha com adoração.

As ciências exatas e a razão,
Os cálculos como meio de visão,
Na universidade cada lição,
A futura sala de aula era sua inspiração.

Ao finalmente completar a graduação,
Cobriu-lhe um ar de satisfação.
“agora farei o que é minha obrigação,
Lecionar não é e nunca será coerção!”

O suor da testa escorria até na mão,
Tremia, gaguejava, nos olhos uma escuridão.
Demorou um pouco, mas livrou-se da aflição.
E ao fim da primeira aula, a primeira emoção.

Descobriu-se com o tempo um ser brincalhão.
Ajudando os alunos como um guardião.
Mesmo quando o assunto era combustão.
Incluía na pauta o discurso sobre corrupção.

E assim foi alguém que ultrapassou a figuração.
Ousou explicar muito mais do que uma simples equação.
Motivou, alegrou, ensinou, mas sem encenação,
Apena seguiu o que, para ele, era o conceito de educação.

É da luta, da derrota, da migalha do pão.
Da fome e sede de quem não tem solução,
Que inúmeras vezes brota essa profissão.

Sem escolhas para o futuro, teve que procurar uma ocupação.
Descobriu que era boa na área de comunicação,
E aos poucos encontrou ali sua sustentação.

Nunca foi muito esperta, ou estudou com dedicação.
Na aula era mediana, por vezes nem prestava atenção.
Teve sorte que para o cargo não lhe exigiram qualificação.
E assim foi ficando, sem nenhuma grande motivação.

Com o tempo, foi perdendo a paciência e a argumentação.
Os alunos ela culpava por conta da sua elevada frustração.
Não conseguia enxergar o mundo sem alienação,
Problemas com a saúde tinha sempre e por fim veio a depressão.

“ó Deus, o que fiz da minha vida?” era sua lamentação.
Nada mais podia lhe trazer alegria, nem uma bela canção.
Descobriu muito tarde que não seguiu a vocação,
Porém era preciso dinheiro para pagar a sustentação.

E assim nasce essa profissão, que você encontra em cada esquina.
E encerro aqui essas histórias contadas meio assim por cima,
Pois todos sabem que a verdade não rima.

mei.

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