2 de junho de 2011

#convivendo


Não é só nas cidades universitárias alemãs que existe o sistema de moradias estudantis. Cada país, europeu ou americano, tem seus próprios sistemas, ou sofre com a falta de. Aqui em Weingarten nós temos as opções de prédios como moradia estudantil e repúblicas. Os prédios (Student Wohnheim) são administrados por empresas específicas para isso, ou como em outras cidades, dirigidas pela própria universidade. São de 12 a 15 quartos por andar, diferenciando-se entre banheiros comunitários ou um banheiro compartilhado a cada dois quartos. Já as repúblicas, chamadas de “WG” (vê-guê) – abreviatura para Wohngemeinschaft – são bem mais variadas. Podem ser casas ou apartamentos, quartos individuais ou compartilhados, um banheiro por andar ou um para a casa toda, só de meninas/os ou misturadas, que não aceitam fumantes, que tem bichos de estimação, etc. Porém todas, sem exceção, terão um Hausmeister. Aquele senhor responsável pela casa. Ele não é necessariamente o dono do imóvel, no caso dos prédios é como um síndico que faz tudo, põem ordens e regras para a boa conservação do patrimônio imobiliário. O custo mensal de um quarto para estudante é proporcional ao tamanho e se a casa/apartamento é nova ou antiga.

Explicado isso, vamos agora para a parte prática.

Nas moradias estudantis são andares e andares de estudantes de todas as idades, cursos, e nacionalidades. Muitas pessoas desgostam desse tipo de moradia pois, como a cozinha é comunitária e o banheiro também, há um certo relaxamento com a limpeza e higiêne dos locais. No caso das WGs, são os próprios moradores que se dividem na limpeza e organização, geralmente cada um é responsável por uma tarefa diferente por semana, assim, a casa está (quase) sempre limpa, organizada e niguém fica sobrecarregado com as tarefas.
Antes de vir pra Alemanha eu nunca tinha morado sozinha ou com amigos. Imagine você o medo que senti ao ter que morar com estranhos. Não somente estranhos mas também pessoas oriundas de outra cultura e costumes e que viam a mim como a estranha.  Acontece que esses desconhecidos vão se tornando amigos devido ao convívio diário. Dividimos as compras de vez em quando, compartilhamos sentimentos de frustrações com relação às provas do curso, no caso dos prédios se faz festa quase toda semana, organizada por um determinado andar, e assim por diante. Claro que alguns companheiros de casa continuam distantes, mas são educados e dão sempre “bom dia” quando nos encontramos.

No meu caso passei pelas duas situações. Morei semestre passado em um prédio, cuja contrução é nova. Eram apenas cinco estudantes para um apartamento com uma cozinha e dois banheiros. Estava no lucro, mas o valor do quarto aumentou, então decidi me mudar para uma WG mais em conta e cá estou eu. Divido uma casa com três alemãs.  Um banheiro e uma cozinha para quatro mulheres (por sorte temos horários diferentes). A foto no começo deste post é um recado para a casa deixado no banheiro. Está escrito: “favor manter o chuveiro e a privada limpos. obrigada”. Uma das meninas tem esse hábito, conversar através de bilhetinhos.

E é assim que convivemos em harmonia. Elas escutam minhas músicas no volume máximo às vezes, eu escuto uma delas estourar bolas de chiclete (que eu jurava era barulho de bola de pin-pong) lá no quarto dela, na outra casa meu amigo passava o dia arranhando um violão, e logo descobrimos que estamos novamente em família. O medo do desconhecido se vai, e na hora da despedida ficam as lágrimas pelos dias vividos em comunhão.


(texto feito para o blog da @camilapaier)

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