15 de maio de 2011

#o-fardo-que-carrego


"Ó mar salgado, quanto do teu sal 
são lágrimas de Portugal !
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram !
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar !
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
(...) "  
(Mar português, Fernando Pessoa)


Portugal com certeza foi das minhas viagens até agora a melhor de todas. 
Talvez por termos essa história de mãe e filhos com este país, ou por poder falar minha própria língua e tomar guaraná, ou ter revisto amigos queridos de longa e curta data. Não sei  escolher um motivo, mas eu sei o que senti.
Em Portugal não nos resta dúvidas de como fomos por essa gente colonizados. As feições nos trens, os cheiros nos mercados, as falas altas e gesticulosas, e uma culinária muito particular, parecidíssima com a nossa. Se no passado fomos descobertos, explorados e sugados, hoje o país está afundado em dívidas como nunca antes em sua história, escuta música popular brasileira e vê novela da globo e record.
Bom ou ruim, Portugal é um Brasil dentro da europa. Sua gente, suas casas, sua confusão de sons, somos nós com outros 500 anos de história somados.
Se o motivo no qual fez com que os portugueses naquela época saíssem de suas zonas de conforto para atravessar um oceano misterioso e inexplorado foi puramente comercial, não mais importa. Não há ambição que de conta dessa coragem.

(...)
E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...
(...)" 
(Homem do Leme - Xutos e pontapés)

À beira do rio Tejo muito fiquei refletindo sobre aquelas viagens, aquele tempo, como nada do que temos no Brasil estava ainda pronto e sólido  vide aqui. Pensar nisso é um tanto quanto perturbador, mas conhecer o passado faz-nos entender melhor o porquê dessa cultura que temos. 
Se a palavra saudade só existe em uma língua e coincidentemente é a nossa, nesse momento eu tenho com esse substantivo uma relação de dor e gratidão. Dói sentir, mas agradeço por pelo menos poder ter motivos para ser saudosista do presente. Só me resta esperar o dia do regresso: quando voltar para casa da madrasta será tão afetuoso quanto a da mãe.

E eis o fardo que carrego.

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