22 de maio de 2011

#weingarten



Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome... ah como é bela a sensibilidade do olhar. Como é triste quem vê sem ver, quem ouve sem ouvir, vive sem viver. É nas ruas estreitas, nos castelos em ruínas, nas igrejas históricas que as emoções vão me convidando à ingressar na viagem ao meu próprio universo e aos universos satélites que ali vou encontrando. Assim resumo meu caminho por esse continente, que está em pleno descobrimento e para mim, com dias contados.

Vocês já sabem que eu moro em Weingarten (“jardim do vinho”) ao sul da Alemanha, onde dizem ser terra de gente alegre e radiante -o sul como um todo é assim pois há mais dias de sol por aqui do que ao norte, acredite, você não sabe a falta que o sol faz até passar dois meses com neve, frio e poucas horas de dia- faltava ainda eu escrever aqui um pouco mais sobre a história deste local, portanto, vamos lá.

Essa cidade tem uma história que se inicia na época medieval. Sua primeira fundação data o ano de 1056. Havia um vinhedo e um mosteiro beneditino aqui. Em 1715 demoliram a igreja que existia e em seu lugar construíram uma das maiores basílicas que há na europa. A basílica foi construída em apenas 9 anos, tempo recorde para uma construção de tal porte. Em estilo barroco, ela guarda em seu altar uma relíquia, um dos três fragmentos do sangue de cristo, que segundo o mito, o soldado que furou cristo na cruz ao anoitecer, para averiguar se este estava realmente morto (mais tarde viria a ser o nosso São Longuinho) teria guardado o sague precioso que escorrera do então falso profeta, pois este sangue o curou de um problema de visão ao entrar em contato com seu olho sem querer. Ele então o enterrou e foi percorrer o mundo como convertido. 800 anos mais tarde a relíquia foi achada e divida em três. Um dos três fragmentos teria sido novamente enterrado, e quando encontrado fora dado de presente à princesa Judite, filha do conde de Flanders, que casou com o príncipe da Bavária. Na época das cruzadas ela prometeu que daria esta relíquia à igreja, caso seu marido voltasse vivo. E assim, a relíquia foi parar na basílica de São Martim, aqui em Weingarten. A cidade foi refundada em 1922, tendo o nome oficial que tem hoje e pertencendo ao estado de Baden-Würrtemberg. 44 dias depois da páscoa é feita anualmente uma procissão carregando a relíquia, há mais de 300 anos! Estou esperando para ver de perto, pois católicos da europa inteira passam por aqui. 

A tradição na europa se diferencia da brasileira em pequenos detalhes, um deles é com certeza  as origens medievais que elas tem. Castelos mais antigos que o Brasil, universidades mais antigas que a nossa independência, isso é fascinente de visitar e conhecer. Bobo daquele que preocupa-se em gastar seu dinheiro unicamente em carros, roupas de marcas famosas e baladas, podendo desfrutar a história viva que está edificada em cada canto do mundo, e não só na europa, minha gente.
Os contos de fadas, de reinos e vassalos, de alguma maneira acredito que aconteceram um dia no passado. Assim foi com a minha cidadezinha aqui. São cerca de 25 mil moradores, é um município normal, um tanto quanto pequeno para os padrões brasileiros, mas na europa há menores. Talvez este seja o segredo para manter a organização e calmaria. Cidades pequenas, cidadãos mais próximos aos governantes. Ou não, tudo são conjecturas.

Uma das rotas do caminho de Santiago de Compostela também passa por aqui. Diariamente vejo turistas de todas as idades, geralmente se parecem alemães, com roupas de caminhadas, muchilinhas e às vezes estão com bicicletas, mas essa já é outra história.
Ficamos assim por hoje, vá conhecer a história da sua cidade, seu bairro,  perceba as cores que te rodeiam e apaixone-se. Depois de ter conhecido Portugal, nunca acreditei tanto naquela máxima de que "o passado nos explica muito sobre os eventos do presente".


Esse texto está também no blog Camila Paier - dá uma olha no link à direita da página aqui...

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